Um bom escritor deve saber contar uma
história. Se você for um bom escritor, pode fazer de sua ida à padaria
um texto legal e bem bacana de se ler. É o que acontece com Patti Smith?
Na verdade não, pois ela vai muito além disso.
Mas espera, você conhece a Patti Smith?
Se a resposta for não, lhe apresentarei
agora. Patti é uma artista que se lançou pro mundo em 1975 com o
lançamento do álbum musical Horses, dando uma nova significância ao rock em si e ao movimento punk.
Além de musicista, ela também é poetisa e escritora. Linha M é o seu segundo livro publicado no Brasil (o primeiro se chama Só Garotos).
No livro, Patti nos conta suas memórias,
devaneios, anseios, viagens, hábitos e miudezas. Sua narrativa é
profunda e agradável, é como se a Patti estivesse conversando comigo e
me contando sua vida. Mas não da forma como alguém geralmente lhe conta
sua vida. Patti tem uma maneira muito peculiar de descrição, com
detalhes simples e elementos que passariam despercebidos pela vida de
muitos, mas que, para ela, são pequenas coisas que valem a pena serem
apreciadas.
Por exemplo, eu, quando largo do trabalho
a noite, compro um milk-shake de menta, que tem se tornado minha bebida
(viciei igual um usuário de drogas), pego o metrô, onde me sento do
lado da janela, e fico observando a paisagem noturna, os matagais e as
luzes das casas. Antigamente, durante o dia, eu via nos trilhos
tartarugas aladas sobrevoando acima deles. Hoje durante o dia eu só vejo
vendedores ambulantes.
Esse meu relato poderia ser substituído
fácil por um “quando eu largo, compro milk shake e vou pra casa de
metrô”. E essa é uma das diferenças entre o contar da Patti e o contar
de outra pessoa. Mas isso vai da sua concepção como leitor.
Sendo minha companhia nas solitárias voltas para casa, ler Linha M
era como se a Patti estivesse do meu lado. A única coisa ruim é que ela
não respeita minha condição de portador de gastrite amante de café que
não pode tomar café, e fala disso o tempo todo. Mas é linda a forma como
ela aborda as coisas que gosta. As mínimas coisas que só você sabe o
valor que tem pra si.
Quando terminei de ler A Menina Submersa, morri de vontade de dar um abraço bem apertado na Caitlín R. Kiernan. Quando li Linha M,
morri de vontade de ser amigo da Patti Smith, andar com ela, trocar uma
ideia, tomar um café. Não queria lhe acompanhar em suas viagens, mas
sim em seus momentos solitários e habituais. Mesmo aqueles em que se é
melhor estar sozinho (sou um pouco inconveniente).
Mas, bem, se isso que você está lendo até agora não se parece com uma resenha, se deve ao fato de que, depois que li Linha M,
falar de Patti Smith pra mim é como falar de uma amiga. Uma amiga que
me tem como confidente e a quem me confiou várias páginas de suas
vivências. Por esta razão adquiri um carinho especial por ela e não lhe
contarei o que ela me contou. Mas se você quiser ela pode te contar
também.
O livro está lindo, com uma capa
brilhante e uma fotografia que tem muito significado depois que se
confere a obra. É a capa perfeita para o livro. E falando em fotografia,
a Patti é uma pessoa que não deixa de registrar em imagens as coisas
que vê pelo seu caminho. Essas imagens dão mais ideia ainda de como ela
aprecia as pequenas, grandes, simples e importantes coisas da vida.
Brochura
22,8 x 15,6 x 1,6 cm
216 páginas
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