“Existem três regras para sobreviver na cidade murada. Corra muito. Não confie em ninguém. Ande sempre com uma faca.”
Hak Nam, também conhecida como “Cidade Murada“,
é um lugar bastante perigoso. Sua população se resume a comerciantes,
ladrões, mendigos, traficantes e prostitutas. Não se vê mulheres nas
ruas, pois todas são apanhadas para trabalharem em bordeis pela irmandade.
A cidade já foi uma grande fortaleza (a China parece ter fascínio por
muralhas), mas ao passar do tempo se transformou em uma enorme favela.
Hak Nam, foi baseada em uma cidade que
realmente existiu. A autora (sim, eu também achava que Ryan Graudin era
um homem) é uma mochileira que já rodou o mundo e pirou quando ouviu
falar de Kowloon (nome da verdadeira cidade murada) — uma cidade sem
lei, extremamente pobre e dominada por quadrilhas — parece até cenário
de ficção distópica. Tanto que A Cidade Murada é uma daqueles livros que você lê e pensa “isso daria um bom filme”.
Se um dia você for à China, não
encontrará Kowloon. A cidade foi demolida pelo governo em 1987. Em seu
lugar, está um belo e grande parque (deve ser grande mesmo, olha a
imagem acima). O parque fica em Hong Kong, que na história escrita por
Ryan Graudin, equivale a Seng Noi, também conhecida como “cidade de fora” (obviamente) pelos habitantes de Hak Nam.
Entrando agora na trama escrita pela Ryan, acompanhamos a saga de três personagens; Dai, Jin Ling e May Yee.
A história é contada do ponto de vista
dos três. A autora usou um tipo de narrativa bem interessante, onde cada
um conta uma parte da história de cada vez.
O primeiro a ser apresentado é Jin Ling.
Apesar do nome, Jin é uma garota. Ela é uma pré-adolescente que finge
ser um menino, pois ser garota na cidade murada é pedir para ser
apanhada pela irmandade e levada para um bordel. Ela é filha de um casal
muito pobre de agricultores que vendeu a filha mais velha para um
bordel em Hak Nam (os chineses tinham esses costumes). No dia em que sua
irmã foi levada, ela seguiu o carro da irmandade até chegar à cidade
murada, onde passou a viver como mendiga e ladra para sobreviver,
enquanto tentava arranjar um modo de encontrar sua irmã e resgatá-la do
bordel onde está confinada. O problema é que existem vários bordeis em
Hak Nam, e ela não sabe em qual sua irmã pode estar.
Jin representa muitas crianças que
tiveram que amadurecer rápido e não tiveram a oportunidade de saber o
que é infância. Antes de ir para Hak Nam, ela defendia a mãe e a irmã
mais velha das agressões do pai, e posteriormente, teve que defender a
si mesma da vida na cidade murada. Aprendeu a se virar sozinha, e o que
ajudou bastante foi seu “quase super poder” de correr mais rápido que
qualquer um.
O segundo personagem a nos ser
apresentado é o Dai. A princípio, ele é um tanto misterioso, mas, no
decorrer da trama, seus segredos vão sendo aos poucos revelados. Dai tem
uma missão a cumprir em um curto período de dias. Esses dias são o que
equivale aos capítulos do livro. A cada dia que se passa na história, o
leitor faz a contagem regressiva junto com o Dai.
E o terceiro dos narradores da história é
May Yee. May é a irmã mais velha de Jin Ling que foi vendida para um
bordel. Apesar de estar na condição que está, ela possui uma
personalidade forte, que a faz suportar seus dias de confinamento sendo a
“princesinha” exclusiva de um político que paga ao dono do bordel para
ela não se deitar com mais nenhum outro homem.
A histórias dos três se cruzam quando
Dai, que já conhecia Jin de vista, por ser um ladrão que se destaca mais
que os outros (inclusive rouba outros ladrões de tão foda que ela é), a
convida para realizar um trabalho junto com ele para o chefe do maior
bordel em Hak Nam. O trabalho consistia em fazer o que chamavam de “corre de drogas”
(o nome já é autoexplicativo), pois alguém rápido como Jin era a pessoa
perfeita para isso. Ela aceita o trabalho pela oportunidade de entrar
dentro de um bordel (com todo mundo pensando que ela era um menino, é
claro) e ver se, por um acaso, sua irmã circulava por lá.
No caso de Dai, ele entra nesse trabalho
por, na verdade, precisar investigar o chefe do bordel (que é chefe do
tráfico) e seus sócios. A partir daí, a trama vai se desenvolvendo. Jin e
Dai vão desenvolvendo uma amizade e Dai acaba conhecendo May Yee. Isso
deixa a parada mais interessante ainda, até a história atingir seu
clímax.
A Cidade Murada é um livro bem
envolvente, que faz o leitor se imaginar em Hak Nam e se sentir na pele
dos personagens. A ambientação é descrita de forma simples, sem precisar
de muitos detalhes (embora tenha detalhes), o que é um elemento
agradável da leitura, e põe automaticamente a imagem das ruas da cidade
em nossa imaginação.
Quanto ao gênero, pode-se considerar
aventura. A ação é bem legal e o drama é bem amarrado aos demais
elementos. Por fim, se torna uma leitura recomendável.
Título | A Cidade Murada
Autor | Ryam Graudin
Editora | Seguinte (selo da Companhia das Letras)
Especificações | 400 páginas, brochura
À venda nas seguintes livrarias:
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